sábado, fevereiro 10, 2007

O Bloco dos Bichos

Carnaval

No Baile de Gala
A máscara identifica a persona
Disfarça, esconde o âmago.
Dilui a personalidade.
Exclui a possibilidade do encontro.

Permite a licenciosidade do toque.
O esfrega, a entrega no banho de suor
Espumante, regado à cerveja.
No vapor de cigarros tragados
Ao fundo o cheiro do lixo.

A cana vai e vem
Nem tudo que reluz é ouro.
Nem tudo que balança cai.

O galo canta antes das 3 da manhã
A gata mia antes da meia-noite
O cão ladra ao ouvir o som da orquestra.

A cigarra não quer saber do amanhã.
A vaca berra sonhando com o açoite
O queijo, a ratazana sequestra.

A formiga encalhada
Azara o pernilongo
Mas quem leva a picada
É a filha do marimbondo.

Também com aquela bunda
Até o pacato piolho
Quer encostar o ferrão.

O morcego desfruta a intimidade do salão
Antes que o amanhecer traga a solidão.
O peixe fora do aquário
Dança na boquinha da garrafa.

As peruas rebolam quando ouvem glu-glu-glu
As patas aproveitam enquanto o pavão empina o rabo.

Orwell já cantou essa pedra.
Por isso vou-me embora
Antes que o porco entregue a folia,
E humanos insanos transformem a orgia animal
Em suruba no matadouro.

Carne vã
Carne vai
Carne vem
Em vão.

Amanhã, tudo em postas no super-mercado
Dispostas em invólucros que dão lucro
Na TV a manchete do Santo Sepulcro.

O déspota disputa
A puta regateia o preço
O michê michou, brochou
Foi enrabado, pelo salto do sapato.

E ainda dizem que é a noite do meu bem !

Vou-me embora pra Pasárgada
Mesmo que o Rei tenha sido destronado.

Por que, se por aqui não agrado
Pelo menos lá
Sei que não sou parte do gado.


Ricardo Muniz de Ruiz - poeta mameluco brasileiro
(Cosme Velho, 9/02/2007)

1 comentário:

Escorpiana Explosiva disse...

Passei aqui para conhecer teu cantinho e adorei muito tanto a imagem como o texto.


Um abraço.