Malangatana Valente Nguenha
Mais me pesa a terra sobre os olhos
e no lugar do coração. Não era
enfim tão rápido quanto crera.
Não fora esse indício e juraria a ausência
total de sensações. Pesa-me, porém
sobre a cegueira dos olhos e o vago
atroz do coração. Atroz não
porque me doa ou amargure,
mas porque esse ruído débil,
sempre inaudível, companheiro
da primeira à derradeira hora,
súbito cessou,
substituindo-o o horror de insuspeitado
e impenetrável silêncio. Depressa
me habituarei. A insensibilidade
da mão esquerda, sê-lo-á? Ou
será da terra? A terra…
O corpo soma-se-me em terra.
De tosca e anómala não chega
a ser obscena na terra a nudez
final. Aqui neste lugar
não há lembranças da vida. Mais
depressa ainda a vida se esquecerá
de mim e deste escuro mas promissor
tirocínio a uma futura arqueologia.
Rui Knopfli - Poeta luso-moçambicano
domingo, março 29, 2009
quarta-feira, março 25, 2009
Quarta-Feira de Cinzas
A Fênix faxina fundo,
a famigerada falência do Ego.
Fulminante, flagra falcatruas
de falsos corações e falsas mentes,
que sempre mentem !
Não nego, não me apego,
Mas não reclamo quando ardo em chamas.
Carregar a consciência de uma época
Não é tarefa para o ser humano.
Não sou Prometeu Acorrentado.
Se depender de mim,
O meu fígado não pode ficar na reta
para que os homens saiam da escuridão.
E o pior, é que a Terça-Feira Gorda
não devorou meu fígado.
A Esfinge do Samba Carioca é mais exigente.
No Terreirão do Samba.
Espetou meu coração
Colocou-o na brasa
e o vendeu mais barato
que um churrasquinho de carne de gato
Ainda bem que sou Macaco !
Vou mudar de galho
Mas enquanto arde a brasa
Não posso renascer das cinzas !
Ricardo Muniz de Ruiz - Poeta Mameluco Brasileiro
Cosme Velho, 25 de fevereiro de 2009
quarta-feira de cinzas - 12:12 horas
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Mameluco Brasileiro,
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