domingo, fevereiro 11, 2007

Transparência

Pintura de Ivone Ralha

Morrer é só não ser visto,
é sair de ao pé de ti,
apagar-me em tudo isto,
deixar de ver o que vi.

Morrer é não estar em ti,
e mais do que não te ver,
é não ser visto por ti,
no deserto do não ser.

Morrer é como apagar-se
a chama que houve em nós,
é uma espécie de ficar-se
vazio da própria voz.

Vive o amor da atenção
que se tem por quem se ama.
Mas a morte atiça em vão
o fio que não dá chama.

Morrer é só não ser visto,
é passar a pertencer
a um livro de registo
que guarda o nosso não-ser.

Eugénio Lisboa - poeta luso-moçambicano

5 comentários:

filipelamas disse...

Tem um excelente gosto! Parabéns!

Chellot disse...

Morrer é tão somente renascer.

Beijos de luz.

Escorpiana Explosiva disse...

Em primeiro lugar obrigada pela visita,lindo poema não vejo a morte com o fim do mundo apenas deixamos de viver aqui na terra para renascer em outro mundo.

Quando voltares em minha casa deixe seu link.

Um abraço.

Paula Negrão disse...

Lindo e profundo!

beijo.

Muadiê Maria disse...

"A morte é a curva da estrada. Morrer é só não ser visto."
Fernando Pessoa