terça-feira, fevereiro 27, 2007
Eu, Que Sou Feio...
Eu, que sou feio...
Eu, que sou feio, sólido, leal,
A ti, que és bela, frágil, assustada,
Quero estimar-te, sempre, recatada
Numa existência honesta, de cristal.
Sentado à mesa dum café devasso.
Ao avistar-te, há pouco, fraca e loura.
Nesta Babel tão velha e corruptora,
Tive tenções de oferecer-te o braço.
E, quando socorreste um miserável,
Eu que bebia cálices de absinto,
Mandei ir a garrafa, porque sinto
Que me tornas prestante, bom, saudável.
«Ela aí vem!» disse eu para os demais;
E pus-me a olhar, vexado e suspirando,
O teu corpo que pulsa, alegre e brando,
Na frescura dos linhos matinais.
Via-te pela porta envidraçada;
E invejava, - talvez não o suspeites!-
Esse vestido simples, sem enfeites,
Nessa cintura tenra, imaculada.
Ia passando, a quatro, o patriarca.
Triste eu saí. Doía-me a cabeça.
Uma turba ruidosa, negra, espessa,
Voltava das exéquias dum monarca.
Adorável! Tu muito natural,
Seguias a pensar no teu bordado;
Avultava, num largo arborizado,
Uma estátua de rei num pedestal.
Cesário Verde - poeta português
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7 comentários:
Amo os poemas portugueses.
Beijos Doces
Namastê!
Que tranquilo! Desperta a mente.
É agradável embrenharmo-nos nas palavras do poeta e sentir a história, o acontecimento.Bela escolha Nelson.
Beijos
Cool Man!!!
Cesário Verde... já ouvi falar bastante.
beijo
Amigo lindo poema,ao ler esse poema deixeme aprofundarme pois as palavras são muito bela.
Um abraço.
Vim trazida por outro blog.
Gostei muito. Volto se permitires.
Grande Paz!
Ankh
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