quarta-feira, março 07, 2007

Mãos Esculturais

Um Negro

Além deste olhar vencido
cheio dos mares negreiros
fatigado
e das cadeias aterradoras que envolvem lares
além do silhuetar mágico das figuras
nocturnas
após cansaços em outros continentes dentro de África

Além desta África
de mosquitos
e feitiços sentinelas
de almas negras mistério orlado de sorrisos brancos
adentro das caridades que exploram e das medicinas
que matam

Além África dos atrasos seculares
em corações tristes

Eu vejo
as mãos esculturais
dum povo eternizado nos mitos
inventados nas terras áridas da dominação
as mãos esculturais dum povo que contrói
sob o peso do que fabrica para se destruir

Eu vejo além África
amor brotando virgem em cada boca
em lianas invencíveis da vida espontânea
e as mãos esculturais entre si ligadas
contra as catadupas demolidoras do antigo

Além deste cansaço em outros continentes
a África viva
sinto-a nas mãos esculturais dos fortes que são povo
e rosas e pão
e futuro.

Agostinho Neto - poeta angolano

11 comentários:

Anónimo disse...

Nossa, obrigada...seu blog me está servindo de referência para conhecer mais a literatura africana,

beijos

JM disse...

Às vezes até me esqueço que o guerreiro, político, estadista, também foi poeta. È poeta.
Obrigado por me relembrares.
Fca aqui expressa a visõa e sensibilidade dessa personalidade,talvez a mais importante de Angola.
Um abraço

Anónimo disse...

Olá!

"sinto-a nas mãos esculturais dos fortes que são povo
e rosas e pão
e futuro."

Gostei especialmente desta parte.um beijinho*

Lia disse...

África... um coração selvagem


Estende os teus braços e fecha os olhos...
Abre a tua mente e o teu coração...
Ouve a música e sente o pulsar da terra...
Sente-me...

África... a rosa negra...
A terra das acácias, dos dongos,
dos comunitários embondeiros...
O sol e o solo cálidos,
Onde o verde nunca é verde,
e o laranja doirado é a cor predominante...

São palavras de vida em acordes de amor...
Um canto novo, puro e livre
numa imensidão de sentimentos
que experimentamos ao sabor do tempo
na cena de um filme que jamais poderei esquecer...

Navego nas lágrimas de um povo...
de rosto negro, semblante régio,
no qual desabrocha um sorriso
que aquece o corpo e devolve a vida
a um coração selvagem...

Uma história... uma longa história...
Inconsequente... talvez...

Beijinhos

Muadiê Maria disse...

Nelson, eu não sei se você sabe, mas o autor desta foto é um fotógrafo baiano muito conhecido chamado Mário Cravo. O homem fotografado é Clyde Morgan um bailarino e coreógrafo americano muito especial com forte ligação com a Bahia e com as danças africanas.
Um abraço,
Martha

Paula Negrão disse...

Africa e Brasil, tão parecidos.

beijo

Anónimo disse...

Gostaria muito de conhecer a África, conhecer o povo africano, suas dificuldades, suas alegrias, suas crenças.... sabe, sinto em meu coração a simpatia que tenho por esse povo que "desconheço"...


Bjs

Chellot disse...

"mãos esculturais.." mãos de quem tenta sobreviver as aflições da vida, mãos de quem luta pelos direitos, mãos que emolduram sonhos...

Lindo poema.

Beijos de sonhos.

Escorpiana Explosiva disse...

Como sempre meu caro amigo você sempre escolhe temas maravilhosos no seu blog para nós deixar encantada.

Um abraço.

Rafaela disse...

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Milene Leite disse...

"Eu vejo
as mãos esculturais
dum povo eternizado nos mitos
inventados nas terras áridas da dominação
as mãos esculturais dum povo que contrói
sob o peso do que fabrica para se destruir"

Uau!
Excelente texto!

Beijão!