segunda-feira, agosto 14, 2006

Regresso ao Líbano

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Já regressei, meu amor.
No entanto não me perguntes absolutamente nada.
Foi-me impossível visitar os campos de Jerusalém.
No íntimo sofro a insana ferocidade dos obuses
e nas pupilas embaciadas as alucinações
reflectem as duras notícias
de lágrimas frescas.


Donde venho
sabias que uma simples família palestina
equivale a menos de um mísero estilhaço incólume
nas fumegantes ruínas dos ex-prédios daquela cidade libanesa?


E sabias que um único membro da OLP na sua vitoriosa imobilidade Final


vale mil vezes mais do que todos os jactos israelitas
abatidos pelas antiaéreas nos raides a Beirute?
Se não sabias, meu amor
agora fica sabendo a dolorosa parte das notícias frescas
que infelizmente trago nos olhos avermelhados de repulsa.
E quanto aos feridos que não poderão jamais amaldiçoar


a insólita nuvem de pólvora que sobre eles se abate
que sentença de Salomão recairá sobre o morticínio?


Nunca soube os objectivos da Diáspora nem me interessa
Mas os da OLP garantem que sei.


Alguma vez nos séculos dos séculos foram alegres
as caminhadas do povo eleito nos caminhos do Êxodo?


E os infinitos soluços que endureceram os muros das sinagogas?


Por causa de Beirute o velho Moisés vai oferecer a Yasser Arafat
os vicejantes prados da Palestina e decepcionado com Ronald Reagan


do Monte Sinau transmitirá por telex a Telavive
e ao Pentágono os Dez Mandamentos.


Já regressei meu amor.
Mas não me peças um beijo.
Toda a minha ternura vai inteira para Beirute.


José Craveirinha – poeta luso-moçambicano

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