quinta-feira, setembro 21, 2006

Canção Na Morte de nga-Caxombo

 Imagem de Ivone Ralha

Pintura de Ivone Ralha



Olho nga-Caxombo ali
na esteira
deitado morto
a todo comprimento

Vejo-o caminhar sem descanso
do Amboim ao Seles
do Seles ao Quipeio
outra vez ao Seles
rotas sem rota mato longe
quem que sabia?

Tipóia o ombro pesava que pesava
duramente Zua
e voz de Kalandu
voz serena do sertão
ele a escutava
através do fogo
através da água
o jeito sem raízes
de amar o coração das coisas.

Olho-o pela vez última
na luz rasante desse dez de Julho
a barba à monangamba
cavada sua negra face
morto
deitado morto
a todo o comprimento.


João-Maria Vilanova – poeta (presumível) angolano

(No reino de Caliban II - antologia
Panorâmica de poesia africana de
Expressão portuguesa)

Sem comentários: