Pintura de Samuel Vincente
Ouvindo o silêncio das coisas remotas,
Distingo legendas que os outros não
lêem...
Vislumbro paisagens confusas, remotas,
- Silhuetas de imagens que muitos não
vêem!...
Desvendo os mistérios da selva distante,
Aonde costuma rugir o leão...
- Arroios cantando, num som murmurante,
Anharas perdidas p'ra além do sertão...
Capim verdejante nas humidas chanas,
Lençol de esmeralda que o sol vai
corando...
Matizes da selva, luar das savanas,
Mabecos fugindo, pacacas pastando...
Silêncio das noites sombrias, caladas,
Segredos da selva, murmúrios da aragem...
-Holongos ligeiros, fugindo, em manadas,
Regatos correndo por entre a folhagem...
Latidos de hienas em torno dos quimbos,
Já dentro da noite, se a fome as aperta;
Quimbundas alegres, sachando os arimbos
Depois que o som cavo do goma as desperta
Chingufos ao longe – rufar permanente –
Chamando ao batuque de intensa folganca...
E os pretos, gingando pra trás e pra
frente,
Agitam as ancas na febre da dança!...
E a lua, do alto – qual "hostia boiante" –
Envolve o cenário num manto sidério...
- Canção do silêncio da selva distante,
Bem poucos entendem teu som de mistério!
...
M. Correia da Silva
Em " Cantares de Angola "
1 comentário:
Tens poemas bonitos
Parabéns pelo blog
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