sexta-feira, maio 12, 2006

Por Uma Sereia de Treva

Pintura de Pierre Oeuvray


sem segredos melhor que nós
ninguém sabe a morte a dois
e como heróis subterrâneos que somos
procuramos a vida por entre as trevas
navegamos algas ao amanhecer
para encontrar um irmão pelas mãos

empresta-me a tua máscara quero saborear
esta melodia ter nos olhos a cor
e antes que o dilúvio se propague
nademos nas profundezas do asco
talvez surja uma sereia de treva
onde possamos pousar o coração
que em fragmentos se dissolve no iodo
da atmosfera que transportamos às costas

sem segredo melhor que nós
ninguém por entre a fresta da porta
da noite apalpa este enigma:
prestar contas ao silêncio dos olhos
e conter a náusea por um instante
ultrapassando o passado hóspede da masmorra
da presente folia ardente transeunte

Francisco Xavier Guita Jr. – poeta moçambicano
Em “Agora e o depois das coisas” (1990-1992)

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