sexta-feira, maio 12, 2006

Língua


Mpurukuma, Língua, corpo quase,
o que sou de sobrepostas vozes,
Bayete!

E tu, pássaro da alma, Mpipi adejando
sobre o losango tumultuante de cores,
Templo onde me cerco,
não me abandones, cão inflando para o rio
uma escarninha balada que nos enforca.

Esfumou-se a Torre na praia nocturna,
a preposição que olfactava o nervo
e Ele dorme ainda e expulso.

Quando a palavra surge, inteira, das águas
e os espíritos batem a respiração do batuque,
Ele tacteia os nomes nas abóbadas de sangue
e entra pelo silêncio, dobrando-se
em número.

Leva-o nas tuas asas, ó sombra
que as patas de cinza espargiram no vento,
soluço de Leanor
em saínhos sete de capulanas mil,
Ilha mineral, Mpipi hílare no azul
onde me cego.

Que sinais sobre que mar do exílio ou
som de algas lavando-te o rosto, se inscreveram
em ti, mulher larga no Índico,
língua por dentro dos lábios cavando, obscuro,
um reino por achar?

Língua, Mpurukuma quase.



Mpurukuma: conceito de oralidade em língua makua.
Bayete: saudação.
Mpipi: pássaro.


Luís Carlos Patraquim – poeta luso-moçambicano
Em “Lidemburgo Blues”

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