Malangatana Valente NguenhaMais me pesa a terra sobre os olhose no lugar do coração. Não eraenfim tão rápido quanto crera.Não fora esse indício e juraria a ausênciatotal de sensações. Pesa-me, porémsobre a cegueira dos olhos e o vagoatroz do coração. Atroz nãoporque me doa ou amargure,mas porque esse ruído débil,sempre inaudível, companheiroda primeira à derradeira hora,súbito cessou,substituindo-o o horror de insuspeitadoe impenetrável silêncio. Depressame habituarei. A insensibilidadeda mão esquerda, sê-lo-á? Ouserá da terra? A terra…O corpo soma-se-me em terra.De tosca e anómala não chegaa ser obscena na terra a nudezfinal. Aqui neste lugarnão há lembranças da vida. Maisdepressa ainda a vida se esqueceráde mim e deste escuro mas promissortirocínio a uma futura arqueologia.Rui Knopfli - Poeta luso-moçambicano

A Fênix faxina fundo,a famigerada falência do Ego.Fulminante, flagra falcatruasde falsos corações e falsas mentes,que sempre mentem !Não nego, não me apego,Mas não reclamo quando ardo em chamas.Carregar a consciência de uma épocaNão é tarefa para o ser humano.Não sou Prometeu Acorrentado.Se depender de mim,O meu fígado não pode ficar na retapara que os homens saiam da escuridão.E o pior, é que a Terça-Feira Gordanão devorou meu fígado.A Esfinge do Samba Carioca é mais exigente.No Terreirão do Samba.Espetou meu coração Colocou-o na brasae o vendeu mais baratoque um churrasquinho de carne de gatoAinda bem que sou Macaco !Vou mudar de galhoMas enquanto arde a brasaNão posso renascer das cinzas !Ricardo Muniz de Ruiz - Poeta Mameluco BrasileiroCosme Velho, 25 de fevereiro de 2009quarta-feira de cinzas - 12:12 horas