sexta-feira, janeiro 26, 2007

Autopsicografia

Fernando Pessoa


O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

Fernando Pessoa - poeta português
(27 de Novembro de 1930)

1 comentário:

Verena Sánchez Doering disse...

me fascina Pessoa es una maravilla
besitos



besos y sueños